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Introdução
A busca por fontes não convencionais de gás tem levado as empresas do setor a explorar densas formações de xisto, um tipo de rocha de onde se pode tirar gás natural. Para isso, é necessário injetar no solo uma mistura de água, ácido, chumbo e benzeno. Esses produtos criam fissuras nas rochas, que permitem que o gás de xisto (do inglês, shale gas) escape. A exploração do xisto vem sendo apontada como um sucesso tecnológico e econômico nos Estados Unidos, movimentando bilhões de dólares.
Esse fato a princípio, pode soar como positivo para a economia, mas também pode ser considerado prejudicial para a sustentabilidade ambiental. E é assim porque a tecnologia de extração do gás de xisto, denominada de fracking, baseia-se em processos invasivos das camadas geológicas e causa impactos ambientais que, embora ainda pouco conhecidos, podem ser irreversíveis.
Gás não convencional
A diferença entre o gás convencional e o não convencional tecnicamente está na forma como esses recursos são explorados O gás não convencional é encontrado em folhelhos e sua extração, em regra, exige a aplicação de uma tecnologia de fraturamento hidráulico (do inglês fracking). Quanto ao gás convencional, pode ser encontrado em reservatórios com permeabilidade e porosidade tradicionais. A tecnologia de fracking consiste na perfuração de poços horizontais a partir de poços verticais (de cada poço vertical derivam vários horizontais em diversas direções), e no fracionamento das rochas sedimentares por meio de explosões controladas, seguidas de injeção de uma mistura de água, areia e produtos químicos. Muitas críticas têm sido feitas ao uso do fracking – desde o uso da água em imensas quantidades até a eventual contaminação de lençóis freáticos.
Reservas
As reservas de gás de xisto, tecnicamente recuperáveis, são estimadas em 200 trilhões de metros cúbicos. A China ocupa a liderança com 36,1 trilhões, seguida pelos Estados Unidos, com 24,4 trilhões, Argentina, com 21,9 trilhões e México, com 19,3 trilhões (EIA/ARI, 2013).
No Brasil, a produção de gás não convencional praticamente inexiste. A única exploração é feita pela Petrobras, no município de São Mateus do Sul (PR), onde se produzem apenas 130 mil metros cúbicos de gás por dia. Estima-se que o Brasil tenha 6,4 trilhões de metros cúbicos de reservas de gás de xisto, o que o colocaria em 10º lugar no mundo (EIA/ARI, 2013). Admite-se que, apesar das incertezas em relação às atuais tecnologias não convencionais, à medida em que elas forem disseminadas e ao mesmo tempo aperfeiçoadas e tornadas convencionais, revelem um aumento das reservas mundiais.
Impacto ambiental
O gás de xisto inicialmente saudado, principalmente nos EUA, como uma alternativa de energia limpa ao carvão para a geração de energia elétrica, atualmente é criticado por muitos, devido a problemas ambientais decorrentes da sua exploração. Esse impacto ambiental estaria relacionado aos seguintes fatores:
(1) Risco de contaminação dos lençóis freáticos: O xisto está aprisionado em pequenas formações rochosas altamente impermeáveis. Sua exploração consiste na fratura das rochas, com a injeção de grande volume de água sob alta pressão, explosivos e substâncias químicas que podem causar vazamentos e chegar aos lençóis subterrâneos de água.
(2) Uso intensivo de água no processo de fratura: As estimativas indicam que são usados cerca de 20 milhões de litros de água por poço perfurado, o que pode chegar a proporções gigantescas, caso se considere a previsão da abertura de um milhão de poços no mundo.
(3) Poluição do ar: Na exploração do xisto, as rochas são bombardeadas com uma mistura de água, areia e produtos químicos. A pressão causa fissuras no subsolo e faz com que o gás suba em direção à superfície.
(4) Abalos sísmicos: A explosão de rochas subterrâneas inclui o risco de pequenos abalos sísmicos nas áreas exploradas.
(5) Receio da possibilidade de o gás de xisto desbancar fontes renováveis de energia, como a eólica e a solar: Admite-se que não se pode reduzir emissões de CO2 sem reduzir o uso do carvão, e o gás de xisto já está destronando o carvão nos EUA. Mesmo que alguma fonte mais limpa se torne posteriormente viável, ainda precisaremos do gás natural como energético para auxiliar na transição para uma economia menos carbono intensiva.
A “revolução” americana
Nos EUA, o excesso de produção de gás natural tem levado empresas petroquímicas e fabricantes de fertilizantes a construir novas fábricas. Trata-se de uma grande mudança, após anos de transferência de unidades de produção para o exterior. É a chamada “revolução americana” do xisto. Esse movimento começou no final dos anos 90, quando foi perfurado o primeiro poço moderno há alguns quilômetros de Fort Worth, no Texas.
O avanço da indústria de gás e petróleo de xisto nos EUA tem produzido um impacto considerável sobre a economia americana, tendência que deverá se aprofundar nos próximos anos e afetará também a economia global. As previsões apontam um crescimento mais forte no PIB, maior geração de empregos, mais receitas para os cofres públicos e um impulso importante para industrialização dos EUA, ao baratear o custo da energia. Estima-se que em 2020 o PIB americano será de 2% a 3,3% maior do que seria, devido ao impacto cumulativo da nova produção de gás e petróleo, em grande parte devido à indústria do xisto (Citigroup Global Markets, 2013).
A fatia do gás de xisto na produção total de gás natural dos EUA pulou de 4% para 5% em meados da década passada, para 34% em 2012, e em 2040 deve atingir 50% (EIA/ARI, 2013). Um fator crítico, que tem favorecido a exploração do gás de xisto nos EUA, é a propriedade privada das reservas de gás no subsolo. Nos EUA, o subsolo pertence aos proprietários das terras e não à União. Dessa forma, os exploradores do gás podem tratar a atividade de exploração diretamente com os donos dos direitos de mineração, dispostos a vendê-los por uma participação nos lucros. Os EUA têm um ambiente regulatório mais ágil e uma regulação ambiental menos restritiva, quando comparados com outros países. É um sistema que garante o máximo de aproveitamento dos recursos naturais, mas tende a comprometer a sustentabilidade ambiental.
A combinação de direitos sobre o subsolo nas mãos de particulares, a existência de empresas menores de gás para atuar na produção e desenvolver tecnologia, a disponibilidade de dados geológicos e a existência de uma vasta malha de gasodutos, já amortizada, constituem um modelo empresarial peculiar aos EUA e, ao que parece, inexistente em outro lugar do mundo.
As empresas têm encontrado obstáculos ao tentar reproduzir a experiência americana em outros continentes, o que pode resultar em demora na produção do gás de xisto. Entre os motivos desse ritmo lento está o fato de os governos fora dos EUA serem donos dos direitos sobre o subsolo, da existência de preocupações ambientais e da falta de infraestrutura de perfuração e transporte de hidrocarbonetos. A tudo isso, acrescente-se a escassez de estradas adequadas, prestadores de serviços e padrões de segurança modernos. Ademais, o conhecimento da geologia local é bem menor na maioria dos países fora dos EUA, país onde se perfuram poços há mais de um século.
Perspectivas brasileiras
O aproveitamento do gás de xisto tornou-se uma das pautas dos governos de diversos países, incluindo o Brasil, depois que os EUA mostraram-se bem sucedidos na campanha exploratória desse insumo.
As condições adequadas para a exploração, produção e distribuição do gás de xisto, incluindo tecnologia, infraestrutura de transporte, mercado consumidor e impactos ambientais, recomendam cautela aos entusiastas dessa nova fonte de energia. Não basta a ideia de desenvolver novas áreas e oferecê-las. Não se pode abraçar uma causa pelo ângulo do modismo, olhar para os EUA e acreditar que devemos fazer tudo o que eles fazem. Precisamos estar preparados em termos de infraestrutura, redes de distribuição, tecnologia e, acima de tudo, assegurar um mercado de gás de xisto.
Isso explica, em parte, o fato de que no leilão da 12º Rodada de licitações da ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, realizado em 28/11/2013, terem sido negociados apenas blocos com perspectiva de exploração de gás natural convencional. As áreas com mais probabilidade de exploração de gás não convencional, que exigem a perfuração de poços com fratura de rochas, não tiveram compradores.
No Brasil é necessário investir em tecnologias, pesquisa e desenvolvimento, dadas as peculiaridades das bacias sedimentares domésticas e a carência de estudos de sismologia. Há também a necessidade de conhecer a disponibilidade no mercado dos equipamentos específicos para a exploração e produção de gás de xisto, para não mencionar a falta de regulamentação ambiental nos Estados.
A questão da complexidade
Como se todas as dificuldades até agora apontadas e analisadas ainda não fossem suficientes, é indispensável examinar a questão também pela ótica da teoria da complexidade. O leitor dirá que acabamos de fazer isso, mas engana-se. O que acabamos de fazer foi examinar os aspectos tecnológicos e geopolíticos do problema o que, nos termos da teoria da complexidade, implica conhecer seus aspectos complicados.
Para que esse ponto se torne transparente, é preciso tornar clara a diferença entre complicação e complexidade ou, em outros termos, sistemas complicados e sistemas complexos. Sistemas complicados são os tecnológicos, os conjuntos de máquinas construídas e operadas pelo homem. Sistemas complexos são todos aqueles dos quais participam seres vivos. Uma empresa fechada, vazia de pessoas, é um sistema complicado, pois nela só existem máquinas. Uma empresa aberta e em pleno funcionamento é um sistema complexo, pois inclui a presença humana e esta comporta o fator fundamental da complexidade: a incerteza.
A experiência tem mostrado que a melhor maneira de levar em conta a complexidade em qualquer contexto é introduzir nele a natureza humana. Com essa noção, revisemos agora os problemas já apontados relacionados à exploração do gás de xisto: uso desmedido de água, contaminação de lençóis freáticos, poluição atmosférica, dos rios e outros mananciais de água, ameaça à velocidade do desenvolvimento de outras fontes de energia, como a solar e a eólica e assim por diante.
Nos EUA, costuma-se assegurar que o fracking é seguro, desde que observados os respectivos procedimentos e tecnologias. É neste ponto que convém reanalisar tudo o que até agora foi dito à luz do que se conhece sobre a natureza humana que, como há muito tempo se sabe, é auto e heterodestrutiva: pulsões inconscientes nos impelem à destruição de nossa espécie, de outros seres vivos e do meio ambiente (Mariotti, 2013).
Assim, levar em consideração a natureza humana, seja em que contexto for, equivale a introduzir também a complexidade e a incerteza inerentes a essa condição. Não importa o volume de recursos financeiros, o cuidado e o apuro com que as tecnologias e suas especificações sejam postas em prática – nada garante o sucesso. É óbvio que com esse reparo não se pretende criar obstáculos e dificuldades: o que se quer destacar é que, uma vez levado em conta o fator complexidade tudo já não parece tão simples – mas, por outro lado, mostra-se mais realista e portanto menos sujeito a leviandades, equívocos, fraudes e outros excessos do gênero.
É claro que levar em consideração a natureza humana em um dado contexto está muito longe de ser uma tarefa simples. Hoje já se conhecem algumas formas de fazer isso na prática, as quais incluem graus variáveis de dificuldade. Estes por sua vez, dependem de parâmetros como valores e crenças, ética, política e responsabilidade socioambiental que, como se sabe, variam de país para país. O que se expôs neste artigo foi apenas um exemplo de que não bastam recursos financeiros e tecnologia para resolver determinados problemas, como muitos de nós fomos (e continuamos a ser) por tanto tempo levados a acreditar.
Conclusão
O gás de xisto apresenta-se como uma fonte de energia não convencional com potencial de aproveitamento em diversas partes do mundo, tendo como referência a bem sucedida experiência norte-americana. Embora representantes industriais vejam a exploração desse energético como uma importante fonte de renda, além de um mecanismo para desenvolver a economia, a forma como os EUA o exploram encontra opositores em diversos países.
Os “ambientalistas” se preocupam com os riscos locais, principalmente para os mananciais de água, além do receio de vazamentos de gás metano e de atividades sísmicas induzidas. Esses temores não podem ser desprezados, pois não é suficiente a indústria gaseífera proclamar que o fracking é seguro desde que as operadoras hajam de forma responsável e os órgãos reguladores cumpram suas obrigações. Essa segurança seria bem maior se a complexidade da natureza humana passasse a fazer parte rotineira dos procedimentos envolvidos em sua produção e consumo.
Referências
EIA – Energy International Agency/ARI – Advanced Resources International. World Shale Gas and Shale Oil Resource Assessment. June, 2013. Disponível em: http://www.adv-es.com/pdf/A_EIA_ARI_2013%20World%20Shale%20Gas%20and%20Shale%20Oil%20Resource%20Assessment.p. Acesso: 01 fevereiro, 2014.
Citigroup Global Markets. Julho, 2013. Disponível em: http://outrapolitica.wordpress.com/2013/07/01/gas-de-xisto-estimula-economia-dos-eua-e-pode-derrubar-preco-do-petroleo/ Acesso em 01 fevereiro, 2014.
MARIOTTI, Humberto, 2013. Complexidade e sustentabilidade: o que se pode e o que não se pode fazer. São Paulo: Atlas, 2013. Neste livro há incontáveis exemplos e ampla bibliografia sobre o assunto.
Resumo
A exploração de combustíveis fósseis, principais responsáveis pela elevação de gases de efeito estufa, torna-se, aparentemente, incompatível em uma economia de baixo carbono. Esta ideia implica em uma homogeneização equivocada dos combustíveis fósseis, pois o gás natural é muitas vezes menos poluente que o petróleo e o carvão, podendo ser considerado um combustível fóssil limpo. O Brasil encontra-se em uma posição favorecida com relação à oferta de gás natural face às recentes descobertas na área do pré-sal, podendo conduzir o país a uma posição relevante no mercado internacional. As características técnicas do gás natural de elevado poder calorífico, alto rendimento energético e baixo nível de emissões de poluentes ampliam suas possibilidades como substituto de outras fontes de energia de origem fóssil e garantem um papel relevante na transição para uma economia brasileira de baixo carbono, devendo ser visto como instrumento de convergência entre geração de energia e crescimento econômico sustentável.
Introdução
O combate ao aquecimento global, provocado, principalmente, pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), leva o mundo a orientar-se para uma economia de baixo carbono. As fontes de energia primária fóssil como carvão, petróleo e gás natural representam, hoje, cerca de 80% da matriz energética mundial, sendo de 68% a participação projetada para 2030 (IEA, 2010). Apesar da preocupação crescente com as mudanças climáticas, infere-se que o consumo de combustíveis fósseis não será alterado bruscamente no curto prazo e o mundo continuará por muitos anos a depender e consumir combustíveis fósseis.
Dentre os esforços de descarbonizar a economia, vislumbra-se um maior aproveitamento do GN, por ser muitas vezes menos poluente que os demais combustíveis fósseis. Este energético apresenta vantagens de menor poluição em relação à gasolina, óleos combustíveis, derivados do craqueamento do petróleo e ao carvão, além de apresentar emissão zero de particulados (SANTOS et al., 2002). Entre os combustíveis fósseis, o GN destaca-se pelo apelo ambiental, pois emite cerca de 50% menos CO2 do que o carvão e 40% menos do que o petróleo, constituindo-se em combustível adequado para a transição a uma economia de baixo carbono (EUROGAS, 2011).
O presente estudo realça o gás natural como o combustível adequado para o processo de convergência para uma economia brasileira de baixo carbono.
Economia de baixo carbono e sustentabilidade
O aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera leva a um aumento global da temperatura, sendo que as consequências de um aumento de 2oC (dois graus Celsius) acima do nível pré-industrial serão devastadoras ao planeta (Stern, 2006; IPCC, 2007).
O Relatório Brundtland (1987) lançou o conceito de desenvolvimento sustentável, que visa assegurar a continuidade das conquistas e avanços na qualidade de vida e na estrutura econômica, minimizando as agressões ao meio ambiente e evitando uma catástrofe ambiental no longo prazo. Siqueira (2009) observou que as mudanças climáticas, o aquecimento global, o efeito estufa, o crescimento da escassez dos recursos hídricos, a perda acelerada da biodiversidade e tantos outros problemas mundiais da crise ambiental indicam que os limites da natureza apresentam-se como uma realidade inquestionável e irreversível em curto prazo.
O tema da sustentabilidade corporativa ganhou corpo, principalmente com o modelo do Triple Bottom Line proposto por Elkington (1998), com o objetivo de auxiliar a empresa a integrar as três dimensões do desenvolvimento sustentável em suas estratégias de negócio, quais sejam, ambiental, econômica e social. Para o autor a ênfase no resultado ambiental trouxe uma nova forma de avaliar a influência das organizações nos problemas ambientais, relacionando seu desempenho à quantidade de emissões e ou desperdício produzido por unidade de volume ou valor de produção.
Segundo Dias (2006), em termos de dimensão econômica, a sustentabilidade corporativa prevê que as empresas devam ser economicamente viáveis a longo prazo. Do ponto de vista social, elas devem proporcionar melhores condições de trabalho para seus empregados e participar de atividades em benefício das comunidades em que atuam. No que concerne à dimensão ambiental, as organizações devem buscar a ecoeficiência dos seus processos produtivos, adotando uma produção mais limpa e evitando poluir o meio ambiente.
O desafio da transição para uma economia de baixo carbono consiste, portanto, em descarbonizar para manter a temperatura da terra nos 2ºC, e, ao mesmo tempo, propiciar bem-estar, o que, em contraposição, geraria aumento das emissões de GEE nos países em desenvolvimento. Apesar do justificado entusiasmo pelas fontes renováveis de energia, um dos destaques no cenário energético global e doméstico nos próximos anos deverá ser o GN, sendo uma das razões o seu apelo ambiental, quando comparado com os demais combustíveis fósseis, constituindo-se em fonte de energia primária adequada para a transição brasileira para uma economia de baixo carbono.
Gás Natural
O gás natural (GN) é uma mistura de hidrocarbonetos encontrados em bacias sedimentares, associados ou não ao petróleo. As características do GN de elevado poder calorífico, alto rendimento energético e baixo nível de emissões de poluentes favorecem as suas possibilidades de substituição de outros energéticos, em particular os derivados de petróleo e o carvão mineral.
A qualidade do GN como combustível tem possibilitado o desenvolvimento de várias tecnologias em seus diversos usos finais, além de inovações tecnológicas em muitos equipamentos industriais, favorecendo maiores rendimentos térmicos e economias de energia, além de redução da poluição (SANTOS, et al., 2002). A maior parte do GN produzido é utilizada como combustível para a geração de energia em suas diferentes formas em vários setores de consumo: industrial, comercial, residencial, automotivo, geração de eletricidade e cogeração. Utiliza-se também o GN na própria indústria gasífera e petroleira, em que uma parte do gás associado retirado do poço de petróleo é reinjetada para manter a pressão do reservatório e aumentar a recuperação do petróleo. O GN tem também aplicações não energéticas, como matéria-prima na indústria gasquímica e de fertilizantes.
Além das vantagens ambientais, o GN pode substituir outras fontes de energia, possuindo múltiplos usos energéticos e não energéticos, contribuindo para a melhoria da competitividade e uso mais racional da energia.
Gás Natural na Matriz Energética
As fontes de energia primária de origem fóssil, tais como o carvão, o petróleo e o gás natural, representam 81% da matriz energética mundial, e projeta-se uma participação de 68% em 2030 (IEA, 2010). Apesar da preocupação crescente com as mudanças climáticas, as fontes de energia fósseis ainda devem predominar nos próximos anos. A economia mundial não ficará livre do petróleo, mas sua fatia na matriz energética estará em queda, diminuindo de 33% em 2008 para, aproximadamente, 30% em 2030. Apesar de o petróleo ser ainda o principal componente da oferta interna de energia mundial, o GN vem adquirindo posição estratégica no mundo, com participação de 21% e tende a manter essa posição nas próximas duas décadas (IEA, 2010).
Este cenário mostra que o Brasil encontra-se em uma posição privilegiada com relação à oferta de GN, em que as recentes descobertas na área do pré-sal deverão conduzir o país a uma posição relevante no mercado internacional. A determinação brasileira em usar de forma expressiva o GN está consubstanciada na projeção de uma ampliação da sua oferta nacional saindo de um patamar de 58 milhões de m³/dia em 2011 para 142 milhões de m³/dia em 2020, com significativa participação do pré-sal. Esta oferta interna, acrescida das importações de 30 milhões de m³/dia de gás boliviano e 21 milhões de m³/dia de Gás Natural Liquefeito (GNL), ampliará a oferta total de cerca de 109 milhões de m³/dia em 2011 para 193 milhões de m³/dia em 2020 (EPE, 2012).
O GN apresenta-se como fonte de energia primária com vigorosa penetração na estrutura produtiva do Brasil, constituindo-se em um insumo de implicações relevantes na formulação da política econômica e do planejamento energético brasileiro. O uso do GN no Brasil, nas mais diversas aplicações, vem apresentando crescimento nos últimos anos, passando de 2,7%, em 1987, para 10,3% de participação na matriz energética brasileira de 2010 (BEN, 2011). Este energético responde por 10,8% do consumo industrial brasileiro de energia e participa com 6,8% na estrutura de oferta interna de energia elétrica (BEN, 2011). O GN respalda-se em um total de 824,7 bilhões de m3 de reservas domésticas medidas e inferidas em fins de 2010 (BEN, 2011).
A composição futura da matriz energética brasileira deve contemplar o fato de que o Brasil, nos próximos anos, se transformará em um grande produtor de petróleo e gás em função das reservas do pré-sal. Estima-se que ao longo do decênio 2011-2020 a produção brasileira de petróleo poderá ultrapassar o patamar de 6,1 milhões de barris de petróleo por dia em comparação com os 2,3 milhões atuais (EPE, 2012).
Os múltiplos usos do gás natural, aliados à crescente pressão da sociedade para o uso de energias que causem menos impacto ambiental, e a recente descoberta de vultosas reservas na região do pré-sal têm contribuído sobremaneira para o incremento no uso do GN em diversos mercados, sinalizando uma maior participação na matriz energética nacional. A projeção da matriz energética brasileira para 2020 contempla um aumento da participação do GN para 14,4% em relação aos 10,6% de 2011, enquanto o petróleo apesar de continuar tendo um peso expressivo, diminuirá sua participação de 36,9% em 2011 para 31,8% em 2020 (EPE, 2012).
Gás Natural e Transição para uma Economia de Baixo Carbono
Segurança energética e mudança climática são dois eixos em torno dos quais se estruturam atualmente as políticas energéticas no mundo. Garantir o suprimento de energia e reduzir as emissões de GEE tornaram-se objetivos estratégicos dos países, com reflexos na composição da matriz energética futura e na configuração das estratégias para alcançá-la.
A mudança climática se relaciona com a segurança energética não só em termos do volume de demanda de energia para qual será assegurada a oferta, como também o conteúdo dessa oferta. O atendimento pleno da demanda, sem mudança de padrão de consumo, implica na incorporação de fontes limpas que não se limitam às renováveis, incorporando, por exemplo, o gás natural. Este energético pode assumir um papel relevante no afastamento de parte dos sacrifícios associados à redução do consumo dos combustíveis fósseis.
O papel do GN como o combustível da transição dos combustíveis fósseis para os renováveis enquadra-se na compatibilização entre o enfrentamento das causas da mudança climática e uma visão de segurança energética, que contempla a manutenção do padrão de consumo mediante a utilização de um combustível fóssil limpo. Essa estratégia contempla o enfrentamento da mudança climática sem a mudança do padrão de consumo, isto é, uma transição indireta e menos indolor.
Note-se que a questão fundamental não é a substituição das fontes fósseis pelas renováveis, mas a transição entre elas, tanto no que concerne à sua duração quanto ao seu conteúdo, porque eles definem a quantidade de recursos que será desembolsada pela sociedade durante esse processo. Para que a opção da baixa emissão tenha uma maior probabilidade de ocorrer, as emissões de GEE terão de entrar em uma curva descendente, implicando em um enorme esforço por parte das instituições, exigindo investimentos anuais de 100 bilhões até 2030 (MCKINSEY, 2009).
Uma fonte de energia que desempenhe o papel de ponte entre a situação atual e o futuro desejado surge como uma maneira de administrar os custos da transição. Essa fonte energética pode apresentar uma taxa de emissão mais baixa do que aquelas apresentadas pelo carvão e pelo petróleo e seus derivados, como é o caso do GN.
Considerações Finais
A política energética brasileira não deve estar fundamentada em uma dicotomia entre o aumento da oferta de petróleo e gás e os investimentos em fontes renováveis de energia, devendo ter um caráter integrado, considerando políticas de gerenciamento da demanda, de forma a garantir segurança do suprimento energético e a minimização de impactos ambientais da produção e do consumo de energia.
Este trabalho posicionou o gás natural como combustível de transição no Brasil para uma economia de baixo carbono, em que os stakeholders tendem a cobrar mais os aspectos ambientais das empresas.
A busca de uma fonte de energia que desempenhe o papel de ponte entre a situação atual e o futuro desejado surge como uma maneira de administrar essa transição. Essa fonte energética pode ser um combustível com uma taxa de emissão mais baixa do que aquelas apresentadas pelo carvão e pelo petróleo e seus derivados, como é o caso do gás natural.
Apesar do justificado entusiasmo pelas fontes renováveis de energia, um dos destaques no cenário energético global e doméstico nos próximos anos deverá ser o GN, sendo uma das razões o seu apelo ambiental, quando comparado com os demais combustíveis fósseis, constituindo-se em fonte de energia primária adequada para a transição brasileira para uma economia de baixo carbono.
Referências
BEN – BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2011 (Ano Base 2010). Empresa de Pesquisa Energética-EPE. Ministério de Minas e Energia-MME. Disponível em: <https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatório_Final_BEN2011.pdf>. Acesso em: 28 janeiro 2012.
BRUNDTLAND REPORT. The World Commission on Environment and Development. Our Common Future, 1987. Disponível em: <http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm>. Acesso em: 30 abril 2011.
DIAS, R. Gestão ambiental, responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2006.
ELKINGTON, J. Cannibals with forks: the triple bottom line of 12st century business. Oxford, U.K.: Capstone Publishing, 1998.
EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2020. Sumário Executivo. Ministério de Minas e Energia-MME. Disponível em: <http://ben.epe.gov.br/PDEE/20120302_2pdf>. Acesso em: 31 janeiro 2011.
EUROGAS – European Union of the Natural Gas Industry, 2009. Disponível em: <www.eurogas.com>. Acesso em: 30 junho 2011.
IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC Fourth Assessment Report: Climate Change 2007 (AR4). Disponível em: http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_and_data_reports.shtml#1. Acesso em: 30 julho 2011.
IEA – International Energy Agency. 2010 Key World Energy Statistics. Disponível em: http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2010/key_stats_2010.pdf. Acesso em: 10 abril 2011.
MCKINSEY & COMPANY. Pathways to a Low Carbon Economy. Disponível em: <http://www.mckinsey.com/Client_Service/Sustainability/Latest_thinking/Pathways_to_a_low_carbon_economy>. Acesso em: 30 setembro 2011.
PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA: 2010 – 2019. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/PDEE/20101129_2.pdf>, Acesso em: 20 maio 2011.
SANTOS, E.M.; Carrera Z. G.; Donero V. L. Z.; Faga, M. T. W. Gás natural: estratégias para uma energia nova no Brasil. São Paulo: Annablume, 2002.
A atenção ao processo de descarbonização do planeta, ao que parece, decorre da percepção coletiva do risco de um suicídio ecológico, exigindo uma atitude de preocupação de nossa sociedade em relação às gerações futuras. Será essa toda a verdade? Ou haveria outras forças mais decisivas, como a segurança energética e as oportunidades de negócios?
A preocupação com a segurança energética decorre da escassez de energia no mundo ser iminente, dado o atual nível de tecnologia e aspectos geopolíticos no Oriente Médio, Rússia e alguns países do norte da África. Limpar a matriz energética dos hidrocarbonetos para as economias desenvolvidas significaria livrarem-se das agruras do cartel dos exportadores de petróleo.
Concomitantemente, o vislumbre de oportunidades de negócios está no centro da próxima onda de expansão capitalista, alicerçada em inovações voltadas à redução das incertezas causadas pelo uso de energias fósseis, e sua gradativa substituição por energias de baixa emissão de dióxido de carbono (CO2).
Ao que parece, o ritmo do processo de descarbonização das economias será determinado em parte pelas possibilidades de conciliação de interesses econômicos das grandes potências e dos países emergentes, resultando em várias combinações entre perspectivas de segurança energética e novos negócios baseados em tecnologias de baixo carbono.
E o Brasil como se posiciona nesse tabuleiro? Se não acelerarmos as pesquisas em energias renováveis, estaremos condenados à dependência das chamadas transferências de inovações. Estas vêm surgindo nas economias centrais, caracterizando uma corrida tecnológica por soluções energéticas que poderão acelerar o fim da era dos combustíveis fósseis.
A atitude brasileira deve ser a de trabalhar duramente pela urgente e profunda introdução de novas tecnologias, para sobreviver ao final da era do petróleo. Entretanto, deve-se operar no aqui e agora, mas observar o amanhã.
Há contradições que não podem ser resolvidas, e isso significa que existem opostos que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares. Estrategicamente, o país deve apostar nas novas oportunidades de negócios que o nosso país reúne e, ao mesmo tempo, no estímulo à pesquisa, desoneração e financiamento aos negócios voltados para energias de baixo carbono.
O gás natural com 8,7% de participação na matriz energética brasileira constitui-se em uma fonte de energia de implicações relevantes na formulação da política energética do país. Suas características técnicas de elevado poder calorífico, alto rendimento energético e baixo nível de emissões de gases de efeito estufa ampliam suas possibilidades como substituto de outras fontes de energia de origem fóssil e garantem um papel relevante na transição para uma economia de baixo carbono. A previsão de uma expressiva oferta de gás natural na próxima década, decorrente das recentes descobertas da região do Pré-Sal, aliado aos múltiplos usos desse energético e benefícios gerados, principalmente, em diferentes áreas da indústria, sugere a necessidade de se trabalhar mais intensamente no desenvolvimento do mercado consumidor deste energético.
A partir da Conferência Mundial das Nações Unidas (RIO-92) e, posteriormente, em 1997, com a elaboração do Protocolo de Quioto, o componente ambiental passou a ter papel estratégico na produção de energia primária no mundo. Nesse contexto, o gás natural (GN) ganhou força em relação às demais fontes de energia fóssil (carvão, petróleo e derivados), devido as suas baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE).
O uso do GN no Brasil, nas mais diversas aplicações, vem apresentando crescimento elevado nos últimos anos, passando de 2,7% em 1987 para 8,7% de participação na matriz energética brasileira de 2009 (BEN, 2010), constituindo-se, em fonte de energia de implicações relevantes na formulação da política energética brasileira. Este energético responde por 9,3% do consumo industrial brasileiro de energia e participa com 2,6% na estrutura de oferta interna de energia elétrica (BEN, 2010), tendo as distribuidoras de gás natural canalizado atingido à média de 52,9 milhões de m3/dia de vendas no mercado brasileiro em 2010 (Revista Brasileira de Energia, 2011).
As características técnicas do GN de elevado poder calorífico, alto rendimento energético e baixo nível de emissões de GEE ampliam suas possibilidades como substituto de fontes de energia de origem fóssil, como o carvão mineral, o petróleo e seus derivados. Entre os fósseis, o GN é de longe o mais limpo, pois emite cerca de 50% menos CO2 do que o carvão e 40% menos do que o petróleo. Destacam-se os seus múltiplos usos, energéticos e não energéticos, em diferentes áreas: industrial, transporte, residencial, comercial e geração de energia.
A previsão de uma expressiva oferta de gás na próxima década, decorrente, especialmente, das recentes descobertas da região do pré-sal, sugere a necessidade de se trabalhar mais intensamente no desenvolvimento do mercado consumidor de GN. A relevância do GN como supridor energético e gerador de novas tecnologias, face aos seus múltiplos usos finais, bem como a crescente preocupação ambiental, justificam a intensificação de estudos relativos à exploração desse energético.
Este trabalho está dividido em cinco etapas, incluindo esta introdução, que descreve seu contexto e seus objetivos. Inicialmente, discorre-se sobre a inserção do GN na economia de baixo carbono, para em seguida, mostrar os usos do GN em diversos setores da indústria. Na sequência, destaca-se a atividade de inovação como propulsora do setor de gás natural e na última etapa sintetiza-se as vantagens da incorporação do GN na matriz energética brasileira, tendo em vista a transição para uma economia de baixo carbono.
O fenômeno das mudanças climáticas com origens antrópicas e a sinalização de escassez de recursos naturais passam cada vez mais a constranger as habilidades das sociedades em sustentar sua prosperidade (BARBIER, 2009). O combate ao aquecimento global provocado, principalmente, pelo aumento das emissões antrópicas de gases de efeito estufa (GEE), leva o mundo a buscar um caminho rumo a uma economia mais verde, de baixo carbono. As ações neste sentido vêem ocorrendo predominantemente nas economias desenvolvidas, entretanto as economias em desenvolvimento, como o Brasil, ainda que perseguindo a melhoria das condições básicas de vida da população, por representarem significativa pressão sobre os recursos naturais do planeta, deve tomar para si uma parte deste esforço na direção de uma produção menos carbono intensivo.
O processo de descarbonização das economias globais pode ser caracterizado por duas frentes: a primeira refere-se ao avanço das energias renováveis; e a segunda à eficiência no uso da energia independentemente de sua fonte. Em relação à primeira, pode-se dizer que o Brasil apresenta-se na vanguarda, pois, segundo dados referentes a 2009, 47,2% de sua oferta interna de energia originam-se de fontes renováveis; ao passo que a média mundial é de apenas 12,7% (BEN, 2010). No tocante ao segundo aspecto, de eficiência energética, diferentemente, o Brasil não ocupa uma posição dianteira. Para se ter uma noção, entre 1994 e 2006 houve um aumento de 26% no consumo de energia por unidade de produto industrial no estado de São Paulo (Relatório de Qualidade Ambiental, 2010).
Na fronteira do avanço tecnológico industrial contemporâneo estão tecnologias e práticas que permitem reduzir de forma crescente a intensidade energética da produção industrial, dos transportes e do próprio consumo doméstico. Produzir e consumir não apenas emitindo menos carbono, mas usando menos energia e menos materiais, esta é a dimensão mais relevante das invenções e das descobertas industriais recentes (ABRAMOVAY e IGLIORI, 2010).
O processo de descarbonização da economia brasileira ganhou um forte estímulo, recentemente, com a promulgação da Lei 13.798/2009, que instituiu a política estadual de mudanças climática do Governo de São Paulo – PEMC. Esta política visa assegurar a compatibilização do desenvolvimento sócio – econômico com a proteção do sistema climático.
Dentre os esforços de descarbonização da economia, vislumbra-se um maior aproveitamento do GN. Este energético apresenta vantagens de menor poluição em relação à gasolina, aos demais óleos combustíveis derivados do craqueamento do petróleo e ao carvão, além de apresentar emissão zero de particulados (SANTOS et al., 2002). Entre os fósseis, o GN é de longe o mais limpo, pois emite cerca de 50% menos CO2 do que o carvão e 40% menos do que o petróleo (EUROGAS, 2011).
A qualidade do GN como fonte de energia tem possibilitado o desenvolvimento de várias tecnologias em seus diversos usos finais. Além de inovações tecnológicas em muitos equipamentos industriais, o GN tem viabilizado entre outros a utilização de queimadores e processos que contam com maiores rendimentos térmicos e economias de energia, associados ainda à redução da poluição (SANTOS et al, 2002).
Atualmente no Estado de São Paulo, diversas indústrias estão promovendo a substituição de queimadores de óleos combustíveis por queimadores a gás natural. Do ponto de vista ambiental, as vantagens são muito significativas, considerando-se inclusive a grande expectativa de aumento da oferta de gás natural com o início da operação de novos campos de petróleo e da camada Pré-Sal (Relatório de Qualidade Ambiental, 2010).
A relevância do uso do GN como supridor energético de baixo impacto poluidor e as novas tecnologias visando eficiência energética, além da crescente preocupação ambiental, tornando a matriz energética brasileira e mundial mais limpa, justifica a intensificação da exploração do GN. Espera-se que esse energético tenha uma participação maior na matriz energética brasileira, e, assim, contribua para melhorar as condições ambientais, principalmente na substituição de pesados óleos combustíveis.
As fontes de energia primária fóssil, tais como o carvão, o petróleo e o gás natural, representam atualmente 81% da matriz energética mundial, com projeção de participação de 78% para 2030 (IEA, 2010). Portanto, apesar da preocupação crescente com as mudanças climáticas, as fontes de energia fósseis ainda devem predominar nos próximos anos. De acordo com dados da IEA (2010), nos próximos 20 anos, a economia mundial não ficará livre do petróleo, mas sua fatia na matriz energética estará em queda, diminuindo de 33% em 2008 para, aproximadamente, 30% em 2030. Apesar de o petróleo continuar como o principal componente da oferta interna de energia mundial, o GN vem adquirindo posição estratégica no mundo, com participação de 21% e tende a manter essa posição nas próximas duas décadas.
Este cenário mostra que o Brasil encontra-se em uma posição privilegiada com relação à oferta de GN, em que as recentes descobertas na área do Pré-Sal deverão conduzir o país a uma posição relevante no mercado internacional. A determinação brasileira em usar de forma expressiva o GN está consubstanciada na projeção da oferta de 167 milhões de m3/dia para o ano de 2019, apresentando uma taxa de crescimento de 8,5% ao ano no período 2010-2019 (EPE – PLANO DECENAL DE ENERGIA, 2010 – 2019).
Apesar do justificado entusiasmo pelas fontes renováveis, um dos destaques no cenário energético global nos próximos anos deverá ser o GN, sendo uma das razões o apelo ambiental, constituindo-se em combustível adequado para a transição a uma economia de baixo carbono.
O gás natural é um combustível fóssil, uma mistura de hidrocarbonetos com predominância do metano, podendo estar associado ou não ao petróleo. Quando queimado, produz uma considerável quantidade de energia, e ao contrário dos outros combustíveis fósseis, tem uma combustão limpa com baixa emissão de poluentes. A maior parte do GN é utilizada como combustível para a geração de energia em suas diferentes formas (térmica, mecânica, elétrica, etc.) em vários setores de consumo, como o industrial, comercial, residencial, veicular e geração de eletricidade.
Na indústria o uso do GN ocorre em vários setores, destacando-se, entre outros, o siderúrgico, alimentos e bebidas, automobilística, cerâmica, vidro e têxtil. O gás natural é utilizado, principalmente, na geração de vapor em fornos para posterior processamento dos produtos, em sistemas de cogeração e na geração de energia elétrica.
No segmento siderúrgico, o GN está presente na coqueria, alto-forno, aciaria e laminação, sendo empregado nos principais equipamentos desse setor, como forno de fusão, de reaquecimento, secadores, fornalhas e caldeiras. No setor metalúrgico, o GN está presente praticamente em todos os processos, desde a fundição até o alívio de tensões e tratamento termo químico sendo usado em fornos de tratamento térmico, em estufas de secagem e litográficas, no aquecimento de cadinhos de fundição, nos cortes de chapas, fornos de fusão, bem como na produção de ferro esponja.
Na indústria vidreira, as fases de fabricação e pós-fabricação, críticas na produção de vidros não planos e vidros prensados de uso automotivo, residencial e arquitetônico, exigem um perfeito controle da temperatura favorecendo o uso do GN. É aplicado nos principais equipamentos desse setor, como forno de fusão, forno de têmpera, requeima e linha de choque térmico.
Na indústria de alimentos e bebidas, os processos que mais utilizam energia são os de lavagem, esterilização, pasteurização, cocção, aquecimento, secagem e destilação. O uso do GN permite um melhor controle e equalização da temperatura no interior dos fornos, resultando em melhor qualidade do produto final. Os principais equipamentos que utilizam GN nesse segmento são, além de caldeira e estufas, os fornos, secadores, autoclaves e sistemas de refrigeração.
O GN é utilizado nos principais equipamentos do setor automobilístico, como geradores de vapor (caldeiras), ar quente (estufas), aquecedores de fluido, fornos de fundição e incineradores. Nos últimos anos, o GN tem substituído os derivados de petróleo e até parte da eletricidade usada no aquecimento (MONTEIRO & SILVA, 2010).
No setor têxtil, o GN é particularmente indicado pela sua pureza nas operações de pré-tratamento, secagem e chamuscagem. Nas operações de tingimento e estampagem, nas quais o produto é imerso em um banho, o uso de queimadores submersos possibilita elevados ganhos de eficiência e redução no consumo energético. Tendo em vista que o vapor é o principal vetor energético dos processos de tratamento, a cogeração mostra-se uma alternativa de otimização do uso de energia nesse setor.
O segmento cerâmico é um dos que mais se presta ao uso de GN, devido ao aspecto da qualidade do produto, notadamente no ramo das cerâmicas brancas, isto é, pisos, azulejos e louças sanitárias. Está presente em todas as fases do processo, desde a secagem da matéria-prima até a queima do esmalte. As principais aplicações do GN na indústria cerâmica são nos fornos contínuos e intermitentes, bem como nos atomizadores e nos secadores.
Verifica-se, assim, que o escopo de avanço do GN em usos industriais é promissor, bem como os ganhos potenciais em termos de aprimoramento da competitividade e uso mais racional da energia, principalmente por meio da redução do uso térmico da eletricidade. O GN proporciona a otimização do uso de matérias-primas e conseqüente melhora nos processos de produção, além de aumentar a segurança e a eficiência dos equipamentos resultando em melhor qualidade do produto final.
No setor residencial, os equipamentos a gás têm evoluído em termos de praticidade, redução de custo e, principalmente, aumento de segurança. Queimadores selados garantem a maior segurança e eficiência dos fogões e fornos a gás. Churrasqueiras e lareiras a gás estão sendo cada vez mais usadas, pois a qualidade do fogo aproxima-se daquela obtida com carvão e lenha.
O setor comercial caracteriza-se pela sua variedade de consumidores entre hotéis, restaurantes, lanchonetes, academias, lavanderias, supermercados, padarias, shopping centers, hospitais e escolas entre outros, cada qual com sua especificidade e necessidade energética. Clientes comerciais utilizam o gás para aquecimento de ambiente, produção de água quente e cocção, sendo que alguns edifícios comerciais maiores como shoppings centers adotam o ar condicionado central a gás. Adicionalmente, podem-se utilizar motores á gás em sistemas de refrigeração para a obtenção de baixas temperaturas, adaptados para câmaras frigoríficas ou geladeiras, usados em supermercados, cervejarias, produtores de gelo, abatedouros e distribuidores de carne. Junto com a refrigeração, outro uso comercial do GN é a ventilação e desumidificação de ar, principalmente para hospitais, onde as exigências de qualidade do ar e da água são mais rigorosas.
Na área de transporte, o gás natural veicular (GNV) tem avançado, especialmente em grandes zonas metropolitanas, congestionadas e onde a qualidade do ar se apresenta em estado precário, substituindo a gasolina nas frotas de táxi e veículos particulares. Na perspectiva ambiental, a grande vantagem do GNV é a quase ausência das emissões de material particulado e de compostos de enxofre. A conversão do veículo para o GN não altera a utilização do combustível original, sendo possível manter todas as características originais de fábrica, e com isso o veículo torna-se bi-combustível, podendo utilizar tanto GN como o combustível original.
No que tange a geração de eletricidade, operando com menos excesso de ar na queima, uma caldeira a gás tem apresenta uma eficiência superior em relação aos demais combustíveis fósseis. Na questão ambiental as caldeiras a GN têm levado grande vantagem em relação àquelas operando com outros combustíveis fósseis. Com caldeiras a óleo ou carvão, o atendimento aos padrões internacionais de emissão de SO2, particulados e hidrocarbonetos não queimados, exige normalmente equipamentos de limpeza dos gases de combustão. O GN ainda permite substanciais reduções nas emissões de NOx, sendo, no agregado, um combustível bem mais limpo. Porém, é no uso direto que o GN tem permitido uma grande transformação do paradigma tecnológico da geração termelétrica por meio das atuais turbinas a gás para fins de geração elétrica de base. Usinas a gás são, normalmente, menos dispendiosas para construir e operar que as suas concorrentes a carvão, óleo ou nuclear, além de serem construídas mais rapidamente e oferecerem elevada confiabilidade. A tecnologia de turbinas a gás para a geração termelétrica evoluiu tanto nos últimos anos, podendo-se obter níveis de eficiência que superam os 40% em operação isolada (em ciclo aberto). Porém, dado que os gases quentes que saem da turbina ainda contêm cerca de 60% da energia térmica introduzida na mesma, as termelétricas a gás passaram a operar, principalmente, em ciclo combinado, isto é, acoplando um sistema de turbina a gás a um sistema de recuperação de calor dos gases quentes, gerando vapor e expandindo-o em turbinas a vapor para geração adicional de eletricidade. Em ciclos combinados, obtêm-se níveis de eficiência ainda maiores, acima de 50% (SANTOS et al, 2002).
Na cogeração, geralmente, são produzidas energia elétrica (através da energia mecânica) e energia térmica na forma de vapor ou de água quente. A cogeração pode ser obtida através de ciclos de vapor simples, em ciclos com turbinas a gás ou em ciclos com motores térmicos. Instalando-se unidades a gás operando em ciclos combinado, com extração parcial do vapor para as necessidades industriais, aumenta-se a eficiência energética e adquire-se independência em relação à rede elétrica.
Indústrias de papel e celulose, química, cerâmica, usinas de açúcar e álcool, siderúrgicas, são os segmentos potenciais para a cogeração de grande porte. Porém, com suas novas tecnologias, a cogeração também pode ser utilizada em menor escala em shopping centers, grandes condomínios residenciais, hospitais, complexos hoteleiros, aeroportos e empresas que utilizam ar condicionado. Em todos esses segmentos, a cogeração transforma-se potencialmente em um excelente vetor de ampliação de mercado para o GN. A cogeração sendo muito mais eficiente do que a geração termoelétrica convencional representa um melhor uso do combustível. Dentro da filosofia de preservar ou otimizar o uso de um recurso natural economicamente viável e ambientalmente sustentável, a opção da cogeração mantem-se normalmente mais forte do ponto de vista energético.
A qualidade do GN como combustível tem possibilitado o desenvolvimento de várias tecnologias em seus diversos usos finais, além de inovações tecnológicas em muitos equipamentos industriais, principalmente queimadores e processos, favorecendo maiores rendimentos térmicos e economias de energia, além de redução da poluição (SANTOS et al, 2002).
A versatilidade do GN com sua amplitude de usos o faz um competidor potencial de quase todos os demais combustíveis. Nos mercados industriais, o GN compete com o carvão e os derivados de petróleo em geral, principalmente o diesel e óleo combustível. Em aplicações residenciais e comerciais enfrenta o óleo combustível, diesel e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), e no mercado automotivo surge como concorrente à gasolina, diesel e etanol. Na geração de eletricidade, o GN compete com todas as demais energias primárias utilizadas para essa finalidade, isto é o carvão, o óleo combustível, a hidroeletricidade, a energia nuclear e a eólica.
Ao mesmo tempo, não existe uma aplicação para o GN na qual ele seja indispensável e para a qual não haja concorrentes. Trata-se, na verdade, de um combustível que enfrenta em todos os seus segmentos de mercado forças concorrenciais de outros energéticos substitutos. Apesar de suas vantagens, o GN não reina sozinho, não havendo nenhum segmento de consumo energético que seja cativo ao GN, o que força e estimula a inovação na indústria do gás natural.
As empresas podem engajar-se nas atividades de inovação por inúmeras razões. Seus objetivos podem relacionar-se a produtos, mercados, eficiência, qualidade ou à capacidade de aprendizado e de implantação de mudanças. A indústria de gás natural brasileira caracteriza-se por ser inovadora e geradora de novas tecnologias visando usos múltiplos do combustível gás natural.
Uma inovação é a implantação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios. Inovações de produto e inovações de processo relacionam-se estreitamente com os conceitos de inovação tecnológica de produto e inovação tecnológica de processo. Por definição, toda a inovação deve conter algum grau de novidade, devendo ser nova para a empresa, nova para o mercado e/ou nova para o mundo (MANUAL de OSLO, 2010).
De acordo com o Manual de Oslo (2010), a natureza das atividades de inovação varia muito de empresa para empresa. Algumas se inserem em projetos de inovação bem definidos, como o desenvolvimento e a introdução de um novo produto, enquanto outras realizam primordialmente melhoramentos contínuos em seus produtos, processos e operações. A indústria de gás natural brasileira caracteriza-se, por ser inovadora, principalmente, de processo.
Uma inovação de processo é a implantação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. As inovações de processo podem visar reduzir custos de produção ou distribuição, melhorar a qualidade, ou ainda produzir ou distribuir produtos novos ou significativamente melhorados. Aqui, podemos destacar, entre outros, a cogeração por meio de turbinas a gás natural, o uso do GN como redutor siderúrgico e na substituição de fontes tradicionais de calo/frio em equipamentos térmicos.
Uma inovação de produto a destacar é o micro-ônibus movido 100% com gás natural desenvolvido pela área de P&D da Comgás. O objetivo do projeto é demonstrar viabilidade técnica-financeira na utilização do GN em substituição aos atuais motores movidos a diesel, além de reduzir as emissões dos coletivos que rodam na cidade de São Paulo. Está em testes visando à medição de emissões, avaliação de desempenho, menor custo por quilômetro rodado, autonomia e maior durabilidade na vida útil do motor com menos custo de manutenção (Comgás, 2010).
Outra inovação, na área de marketing, também desenvolvida pela Comgás, é o sistema integrado para planejadores de redes. Segundo a empresa, trata-se “de uma dessas idéias que mudam o jeito de a companhia ver seu negócio” (COMGÁS, 2009). Esse sistema colhe uma série de indicadores de possíveis futuros clientes, como estimativa de volume, localização e se recebe algum outro combustível concorrente. Antes da implantação desse projeto, a Comgás fazia 1,7 mil levantamentos, mas só conseguia viabilizar 400 deles (23%). Hoje, a empresa é capaz de realizar 600 estudos e converter 400 deles (67%) (COMGÁS, 2009). O sistema não só otimizou o tempo de quem tem a responsabilidade de descobrir novos mercados, como melhorou essas investidas.
O combate ao aquecimento global provocado, principalmente, pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, leva o mundo a orientar-se para uma economia de baixo carbono, em que o componente ambiental passa a ter papel estratégico na produção de energia primária e formulação de políticas públicas. O gás natural em função de suas características de elevado poder calorífico, alto rendimento energético e baixo nível de emissões de poluentes em relação aos demais combustíveis fósseis, tais como o petróleo, derivados de petróleo e carvão mineral, pode ser considerado um combustível “limpo” adequado para a transição de uma economia de baixo carbono.
Apesar do justificado entusiasmo pelas fontes renováveis, um dos destaques no cenário energético global nos próximos anos deverá ser o GN, sendo uma das razões o apelo ambiental. Entre os fósseis, o GN é de longe o mais limpo, pois emite cerca de 50% menos CO2 do que o carvão e 40% menos do que o petróleo. Nos próximos 20 anos, a fatia das renováveis na matriz energética mundial crescerá, porém a maior parte da base energética seguirá sendo de combustíveis fósseis. A tendência futura mundial é que o gás natural tenha papel fundamental no processo de transição da atual indústria do petróleo e derivados para a indústria das energias renováveis.
O gás natural apesar de suas vantagens não reina sozinho. Não existe nenhum segmento de mercado de consumo energético que seja cativo ao gás natural, onde sua presença seja realmente insubstituível. Isto leva e a indústria de gás natural brasileira caracterizar-se por ser inovadora, principalmente de processo. A penetração do gás natural na indústria consiste na competição direta deste com o óleo combustível, principalmente em processos industriais que exigem elevado grau de pureza do produto final, como é o caso da fabricação de vidro e de determinados tipos de cerâmica. Destaca-se o uso do gás natural na eficiência energética por meio da cogeração e como matéria-prima para a indústria química e de fertilizantes, além de redutor siderúrgico.
A qualidade do GN como combustível tem possibilitado o desenvolvimento de várias tecnologias em seus diversos usos finais, além de inovações tecnológicas em muitos equipamentos industriais, principalmente queimadores e processos, favorecendo maiores rendimentos térmicos e economias de energia, além de redução da poluição,
As questões relativas ao uso do gás natural como supridor energético, impulsionador de novas tecnologias e a crescente preocupação ambiental justificam a intensificação de estudos relativos ao papel relevante deste energético na transição para uma economia de baixas emissões de carbono.
ABRAMOVAY, Ricardo e IGLIORI, Danilo. O comportamento energético da indústria. Jornal Valor Econômico, 03 de junho de 2010.
BARBIER, Edward. Rethinking the Economic Recovery: A Global Green New Deal. UNEP, 2009. Disponível em http://www.unep.org/greeneconomy/portals/30/docs/GGNDReport-
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BEN – BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2010 (Ano Base 2009) Empresa de Pesquisa Energética-EPE. Ministério de Minas e Energia-MME http://ben.epe.gov.br/downloads/Relatório_Final_BEN2010.pdf. Acesso em maio de 2011.
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MONTEIRO, Jorge Venâncio e SILVA, José Roberto. Gás Natural aplicado à indústria e ao grande comércio. São Paulo: Blucher: Comgás, 2010.
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A atenção ao processo de descarbonização do planeta, ao que parece, decorre da percepção coletiva do risco de um suicídio ecológico, exigindo uma atitude de preocupação de nossa sociedade em relação às gerações futuras. Será essa toda a verdade? Ou haveria outras forças mais decisivas, como a segurança energética e as oportunidades de negócios?
A preocupação com a segurança energética decorre da escassez de energia no mundo ser iminente, dado o atual nível de tecnologia e aspectos geopolíticos no Oriente Médio, Rússia e alguns países do norte da África. Limpar a matriz energética dos hidrocarbonetos para as economias desenvolvidas significaria livrarem-se das agruras do cartel dos exportadores de petróleo. Concomitantemente, o vislumbre de oportunidades de negócios está no centro da próxima onda de expansão capitalista, alicerçada em inovações voltadas à redução das incertezas causadas pelo uso de energias fósseis, e sua gradativa substituição por energias de baixa emissão de dióxido de carbono (CO2).
Ao que parece, o ritmo do processo de descarbonização das economias será determinado em parte pelas possibilidades de conciliação de interesses econômicos das grandes potências e dos países emergentes, resultando em várias combinações entre perspectivas de segurança energética e novos negócios baseados em tecnologias de baixo carbono.
E o Brasil como se posiciona nesse tabuleiro? Se não acelerarmos as pesquisas em energias renováveis, estaremos condenados à dependência das chamadas transferências de inovações. Estas vêm surgindo nas economias centrais, caracterizando uma corrida tecnológica por soluções energéticas que poderão acelerar o fim da era dos combustíveis fósseis.
As recentes descobertas do Pré-Sal colocam o Brasil em um novo cenário da indústria de gás e petróleo, gerando novas oportunidades de negócios que mobilizam toda a cadeia produtiva.
A atitude brasileira deve ser a de trabalhar duramente pela urgente e profunda introdução de novas tecnologias, para sobreviver ao final da era do petróleo. Entretanto, deve-se operar no aqui e agora, mas observar o amanhã.
Há contradições que não podem ser resolvidas, e isso significa que existem opostos que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares. Estrategicamente, o país deve apostar nas novas oportunidades de negócios oriundas do Pré-Sal e, ao mesmo tempo, no estímulo à pesquisa, desoneração e financiamento aos negócios voltados para energias de baixo carbono.
Resumo
O Brasil apresenta uma matriz de geração de energia elétrica de origem predominantemente de fontes renováveis de energia, responsável por aproximadamente 85% da geração de eletricidade. Entretanto, há uma forte dependência da geração hidráulica que responde por montante superior a 76% da oferta de energia elétrica. A necessidade da complementariedade do sistema elétrico brasileiro fortemente concentrado na hidroeletricidade, aliado ao fato da luz solar ser uma fonte limpa e renovável, deve levar a energia solar a ganhar espaço na matriz de energia elétrica brasileira ao longo dos próximos anos. As dimensões territoriais e as elevadas taxas de irradiação solares brasileiras colocam o Brasil com um significativo potencial de geração de energia solar.
Palavras-chave: Energia Solar, célula fotovoltaica, coletor solar, energia renovável, matriz energética.
Abstract
Brazilian electric energy matrix originates mainly from renewable energy sources, which are responsible for 85% of its electricity generation. However, there is a strong dependence on hydroelectric power generation, which counts for more than 76% of electric energy supply. The need of complementing the Brazilian electric system, which is highly concentrated on hydroelectric power generation, besides the fact of sunlight being clean and renewable, should lead solar energy to gain room in the Brazilian electric matrix in the near future. The Brazilian territorial dimensions together with high level of solar irradiation provide Brazil a relevant potential for solar energy generation.
Key words: Solar energy, photovoltaic cell, solar collector, renewable energy, energetic matrix.
Introdução
A participação das fontes não renováveis de energia, compostas pelos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) e pela energia nuclear, é de aproximadamente 80% na matriz de energia elétrica mundial, restando 20% para as fontes renováveis (BEN, 2103). Esta forte dependência em relação aos combustíveis fósseis acarreta uma apreensão por parte da humanidade quanto ao futuro esgotamento dessas fontes de energia. Ao mesmo temo, existe uma preocupação em relação ao aquecimento global, fruto do aumento das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, advindo da utilização dos combustíveis fósseis. Quanto à energia nuclear, predomina o eterno medo de possíveis acidentes nas usinas nucleares e com o destino a ser dado aos resíduos radioativos.
O Brasil, de forma positiva, ao contrário da média mundial, apresenta uma matriz de geração de energia elétrica de origem predominantemente de fontes renováveis de energia, responsável por aproximadamente 85% da geração de eletricidade. Entretanto, há uma forte dependência da geração hidráulica que responde por montante superior a 76% da oferta de energia elétrica (BEN, 2013). A expansão da hidroeletricidade esbarra no fato de que o potencial hídrico brasileiro ainda não explorado encontra-se na região amazônica, envolvendo questões ambientais para o seu pleno aproveitamento.
A ocorrência de chuvas abaixo do esperado no último verão brasileiro reduziu de forma significativa o nível dos reservatórios das usinas hidroelétricas, acarretando no uso intenso das usinas termelétricas, geradoras de GEE, para atender a demanda de eletricidade. Tal fato evidenciou a urgência de uma maior diversificação de fontes renováveis de energia na matriz elétrica do país. Paradoxalmente, o calor gerado pelo Sol, ao mesmo tempo em que contribuía para reduzir o nível de água dos reservatórios, poderia ter gerado energia para abastecer residências, por meio de sistemas solares fotovoltaicos.
A necessidade da complementariedade do nosso sistema elétrico fortemente concentrado na hidroeletricidade, aliada ao fato da luz solar ser uma fonte limpa e renovável, deve levar a energia solar a ganhar espaço na matriz de energia elétrica brasileira ao longo dos próximos anos. A presença da energia solar na matriz energética brasileira, hoje quase inexistente, deve crescer nos próximos anos, principalmente, por ser uma energia renovável e limpa, não emissora de GEE contribuindo para a desaceleração do aquecimento global.
Energia Solar
Uma fonte renovável de energia é aquela cuja disponibilidade não se altera de forma mensurável com o seu uso. Assim, são consideradas energias renováveis as fontes de energia hidráulica, eólica, solar, biomassa, geotérmica e dos oceanos, sendo uma de suas principais características a não emissão de GEE.
A aclarante e inundante luz solar é a principal fonte de energia do planeta Terra e a maioria dos seres vivos de nosso planeta depende direta ou indiretamente dessa energia. A energia solar consiste na energia contida na radiação eletromagnética emitida pelo Sol, cuja superfície atinge altas temperaturas de cerca de 6.000 ºC (5.778 K). Essa energia diminui sua intensidade à medida que se afasta do Sol e se aproxima da Terra, sendo a intensidade média de energia que atinge o topo da atmosfera terrestre de 1.353W/m2.
A energia solar pode ser aproveitada como fonte de calor para aquecimento ou para a geração de energia elétrica e apresenta-se, basicamente, de duas formas: energia fotovoltaica (por meio de células fotovoltaicas) e energia solar térmica (por meio de coletores solares).
Energia Solar Fotovoltaica
A energia solar fotovoltaica é a energia obtida por meio da conversão direta da luz do Sol em eletricidade com base no processo conhecido como efeito fotovoltaico, que consiste em um fenômeno apresentado por certos materiais que, quando expostos à luz solar, geram eletricidade. Os sistemas fotovoltaicos têm a capacidade de captar diretamente a luz do Sol e gerar corrente elétrica. Essa corrente é coletada e processada por dispositivos controladores e conversores, podendo ser armazenada em baterias ou utilizada diretamente em sistemas conectados à rede elétrica.
Os sistemas fotovoltaicos apresentam-se de forma isolada, híbrida ou conectados à rede elétrica, tendo como principal componente as células solares, responsáveis pela conversão da energia solar em eletricidade. Embora os sistemas autônomos de energia solar fotovoltaica sejam uma importante alternativa para a geração de eletricidade em locais que não possuem rede elétrica, o uso da energia solar fotovoltaica em breve estará concentrado nos sistemas conectados à rede elétrica. O potencial de exploração dessa energia é imenso para a aplicação em micro e mini sistemas de geração distribuída, bem como em parques de geração que funcionam como grandes usinas de eletricidade (Villalva e Gazoli, 2012).
Os módulos fotovoltaicos podem ser usados nos telhados e fachadas de residências e edifícios para suprir as necessidades locais de eletricidade, ou podem ser empregados na construção de usinas geradoras de eletricidade. A eficiência das células fotovoltaicas comerciais, por enquanto, situa-se em um patamar relativamente baixo, entre 10% e 20% da potência solar incidente, dado o estágio da tecnologia atualmente existente (IEA-WEO, 2013).
Energia Solar Térmica
A energia solar térmica ou fototérmica consiste no aproveitamento da luz do Sol como fonte de calor para aquecimento ou para a produção de energia elétrica por meio do uso de coletores solares.
. Fonte de aquecimento
Nos sistemas de aquecimento solar o calor é captado por coletores solares instalados nos telhados de prédios ou residências para aquecer a água. Neste caso, a energia solar térmica consiste na captação e conversão da radiação solar em energia útil por meio do uso de coletores solares. Esses equipamentos são aquecedores de fluidos (líquidos ou gasosos) classificados em coletores solares planos ou coletores solares concentradores em função da existência ou não de dispositivos de concentração de radiação solar. Dentro dos coletores existem tubos por onde circula a água que é aquecida e depois armazenada.
A radiação solar absorvida em coletores solares planos é empregada, principalmente, para prover aquecimento de água, a temperaturas relativamente baixas (inferiores a 1000C). O uso dessa tecnologia ocorre predominantemente no setor residencial, havendo demanda e aplicações em edifícios públicos e comerciais, hospitais, restaurantes, hotéis e similares. O coletor solar plano é instalado normalmente no teto das residências e edificações.
. Fonte de energia elétrica
A luz do Sol pode ser aproveitada para produção de eletricidade por meio de usinas solares térmicas, que captam e concentram o calor para aquecer um fluído. A energia térmica produzida pelos coletores solares concentradores é empregada para gerar vapor e acionar uma turbina acoplada a um gerador elétrico, que transforma a energia mecânica em eletricidade.
Existem diversos tipos de usinas solares térmicas, de acordo com o sistema de captação e concentração empregado. O concentrador solar baseado em espelhos côncavos, que refletem os raios solares e concentram o calor em uma tubulação, operam em temperaturas de 100⁰C a 400⁰C. O coletor solar parabólico, que concentra os raios solares em um ponto onde é instalada uma cápsula térmica, e o concentrador solar baseado em um conjunto de espelhos planos. que refletem os raios solares e concentram o calor em uma cápsula instalada no alto da torre, operam em temperaturas superiores a 400⁰C. Os coletores solares parabólicos atingem índices de eficiência de aproveitamento da energia solar incidente da ordem de 14% a 22% (ANEEL, 2014).
Obstáculos a superar
A difusão de empreendimentos ligados ao emprego da energia solar passa pela superação de obstáculos, como o alto custo dessa fonte de energia frente a outras fontes renováveis, a baixa eficiência dos sistemas de conversão de energia solar em eletricidade, bem como a fraca eficiência nas formas de armazenamento da energia solar.
A falta de competitividade da energia solar é constatada pelo seu elevado custo em relação às demais fontes renováveis de energia. Atualmente, o seu custo varia entre R$ 330 e R$ 450 por MW/hora, ao passo que o valor da energia oriunda da Biomassa situa-se em torno de R$ 200, energia eólica R$ 100, PCH – Pequena Central Hidroelétrica R$ 140, e grandes centrais hidroelétricas R$ 80 por MW/hora (Valor Econômico, 2014). Não obstante este quadro desfavorável, a tendência é que as tecnologias usadas tanto para a energia fotovoltaica quanto para a fototérmica se tornem mais competitivas nos próximos anos. A queda do custo da célula fotovoltaica em cerca de 75% no mercado mundial nos últimos anos (Valor Econômico, 2013), pode ser vista como um indicador.
A baixa eficiência dos sistemas de conversão de energia solar torna necessário o uso de amplas áreas para a captação de energia em quantidade suficiente para que o projeto se torne economicamente viável. Existe variação no volume de energia gerada de acordo com a situação atmosférica, consequentemente, regiões com frequentes coberturas de nuvens e chuva tendem a apresentar variações diárias de produção de acordo com o grau de nebulosidade.
As formas de armazenamento da energia solar são pouco eficientes quando comparadas às fontes de energias tradicionais. Além de que, à noite não havendo geração de energia, torna-se necessária a existência de meios de armazenamento da energia produzida durante o dia em locais onde os painéis solares não estejam ligados à rede de transmissão elétrica.
Perspectivas da energia solar
O esforço crescente em relação ao aperfeiçoamento das tecnologias existentes tem resultado em aumento da eficiência dos módulos solares e redução considerável nos custos de produção, sinalizando perspectivas futuras positivas para a utilização da energia solar, principalmente para a geração de eletricidade através dos módulos fotovoltaicos. Entretanto, por hora, em função de seu custo relativamente ainda alto, embora decrescendo rapidamente, o emprego da energia solar encontra viabilidade econômica em aplicações de pequeno porte, como em sistemas rurais isolados, sistemas de comunicação e alguns produtos de consumo.
Países como Alemanha, China e Japão, apesar de apresentarem uma condição de insolação bem inferior a do Brasil, avançam no desenvolvimento e utilização da energia solar. Atualmente, a Alemanha é o país que concentra a maior parte da geração fotovoltaica, com capacidade instalada de cerca de 20 GW, representando 4% de toda a eletricidade gerada naquele país (Villalva e Gazoli, 2012).
A taxa de insolação do território alemão é cerca de 3500 Wh/m2 (watt-hora por metro quadrado) por dia de energia solar. Comparativamente, o Brasil apresenta valores de insolação diária entre 4500 e 6000 Wh/m2 (Villalva e Gazoli, 2012). Portanto, dadas às dimensões territoriais e as elevadas taxas de irradiação solares brasileiras, o nosso país apresenta um significativo potencial de geração de energia solar.
Em 2014, a previsão é que sejam instalados no mundo mais de 40 GWp, entre instalações em telhados e usinas solares (Valor Econômico, 2014). A eletricidade produzida pela energia solar fotovoltaica tende aumentar dos atuais 0,4% para 2,6% em 2035 na matriz energética mundial (IEA/WEO, 2013). No Brasil, estima-se uma capacidade instalada de 400 MW até 2020 (Valor Econômico).
O emprego da energia solar fotovoltaica é apropriado para lugares remotos ou de difícil acesso, pois sua instalação em pequena escala não obriga a enormes investimentos em linhas de transmissão. Essa tecnologia tem o potencial de substituir grupos geradores a diesel ou óleo que hoje abastecem essas comunidades isoladas. Ademais, em países de clima tropical, como o Brasil, o seu uso é viável em praticamente todo o território. Atualmente, o mercado fotovoltaico é considerado insipiente, todavia altamente promissor, visto que existe uma parcela significativa da população mundial, cerca de 2 bilhões de habitantes, localizada principalmente nas áreas rurais, sem acesso à eletricidade.
No Brasil, o crescimento da geração fotovoltaica, tem sido favorecido e impulsionado, graças à iniciativa recente da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, por meio da Resolução Normativa 482 de 17/04/2012 (ANEEL, 2012). Esta normativa permite a micro geração e mini geração1 de energia elétrica a partir de fontes renováveis de energia com sistemas de geração distribuída, conectados às redes elétricas de baixa tensão. Ou seja, estabelece que clientes residenciais, comerciais e empresariais possam instalar painéis fotovoltaicos e abater das suas contas de energia essa micro geração. Dessa forma, passou-se a permitir que consumidores possam investir em sistemas de geração de energia solar para serem conectados à rede de transmissão e não apenas para consumo próprio. Assim, consumidores tendem a se tornar também em fornecedores de energia.
A disposição do governo brasileiro em organizar leilões exclusivos de energia solar deve favorecer a aceleração da demanda pelo consumo de energia solar. O volume de energia negociado no leilão funcionaria como uma garantia de demanda mínima para atendimento das exigências de escala para instalação local das unidades produtivas, principalmente de módulos fotovoltaicos2.
O emprego de painéis solares, por meio da combinação do uso de coletores solares, que esquentam a água das residências, com as células fotovoltaicas, que transformam a luz solar em eletricidade apresenta-se como uma opção para o uso doméstico da energia solar num futuro próximo. Projeta-se um movimento de perda de participação da eletricidade para o aquecimento de água residencial, ao longo da próxima década, em parte, pela maior penetração da energia solar para este fim (PDEE, 2022).
Considerações Finais
A energia solar constitui-se em opção promissora para complementar a geração de hidroeletricidade. Os sistemas fotovoltaicos podem gerar energia elétrica em qualquer espaço onde for possível instalar um painel fotovoltaico. Dessa forma, telhados e fachadas de prédios e residências podem gerar eletricidade em áreas urbanas, e usinas de eletricidade podem ser construídas próximas ou distantes dos centros de consumo. As condições climáticas e o espaço territorial brasileiro são extremamente favoráveis para o emprego da energia solar.
A massificação da micro geração e mini geração de eletricidade com sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica tende a criar empregos no desenvolvimento e na fabricação de painéis fotovoltaicos, inversores eletrônicos e acessórios, além de gerar demanda de profissionais no setor de serviços de instalação, manutenção e treinamento.
O futuro da energia solar tende a ser favorecido pelo aumento das pressões mundiais para a utilização de fontes energéticas renováveis e limpas e a contínua busca pela diversificação das fontes de suprimento energético. Este cenário deve prevalecer nos próximos anos e a energia solar deverá ser considerada como uma alternativa energética relevante para o Brasil.
Notas:
Referências
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução Normativa 486 de 17 de abril de 2012. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf. Acesso: 15 de abril de 2014.
_______________________________________. Energia Solar. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf. Acesso: 30 de maio de 2014.
BEN – BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL, 2013. EPE – Empresa de Pesquisa Energética. MME – Ministério de Minas e Energia. Disponível em: EPE-BEN-Síntese%20do%20Relatorio%20Final_2013_Web.PDF-Foxit Reader. Acesso: 30 de maio de 2014.
IEA-WEO. International Energy Agency – World Energy Outlook, 2013. Global Energy Trends. Disponível em: http://www.IEA- WEO2013_Executive_Summary_English.PDF – Foxit Reader. Acesso: 15 de maio de 2014.
JORNAL VALOR ECONÔMICO. Conversão de luz do sol em eletricidade. 30/04 e 01/05 de 2013.
_________________________________. Brasil Solar vai fabricar painel solar na Paraíba. 27, 28 e 29/09 de 2013.
_________________________________. A energia solar e o baixo nível dos reservatórios. 20/02 de 2014.
__________________________________. Conversão de luz do sol em eletricidade ganha ritmo. 30/04 e 01/05 de 2103.
PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA 2019. EPE – Empresa de Pesquisa Energética: http://www.epe.gov.br/PDEE/20101129_2.pdf. Acesso: 15 de maio de 2014
PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA – PDEE 2022. Ministério de Minas e Energia. Empresa de pesquisa Energética, 2013.
VILLALVA, Marcelo Gradella; Gazoli, Jonas Rafael. Energia Solar Fotovoltaica: conceitos e aplicações. 1ª. ed. São Paulo: Érica, 2012.
Predomina o senso comum em conceber o brasileiro como detentor de especial vocação para o exercício do empreendedorismo. Eis aí um valioso recurso doméstico para estimular o crescimento econômico e social do país.
Estamos falando da liberação da criatividade e determinação presentes nos micros e pequenos empresários, proprietários de diversos empreendimentos, como franquias, fábricas, negócios on line, comerciantes e exportadores, atuantes como produtores de bens e ofertantes de serviços necessários à elevação do bem-estar da sociedade.
Exercer o empreendedorismo com êxito é uma tarefa árdua que exige competência de ordem financeira. Ao mesmo tempo, em que o estímulo ao empreendedorismo é uma valiosa opção para diminuir o desemprego e aumentar a geração de renda, a inexperiência e o despreparo do empreendedor na gestão financeira de seu negócio, pode comprometer sobremaneira esta poderosa alternativa.
Muitos empreendedores tendem a pensar, equivocadamente, em finanças e empreendedorismo como elementos estanques entre si, deixando de lado a questão financeira do empreendimento para focar quase que exclusivamente na ideia do negócio. Familiarizar-se e estar preparado para manejar as ferramentas contábeis e financeiras torna-se um vantajoso diferencial e até mesmo uma questão de sobrevivência.
Desejar ganhar muito dinheiro com um negócio próprio no Brasil sem estar no mínimo familiarizado com conceitos básicos de finanças é no mínimo uma atitude “ingênua”. No entanto, quando os empreendedores começam a se aprofundar no tema, eles passam a perceber a crucial importância das finanças na gestão de seus negócios.
Nesse processo de aprendizagem, o empreendedor torna-se familiarizado coma a projeção da demonstração de resultados, do balanço patrimonial e, principalmente, do fluxo de caixa, construindo o Plano de Negócios de seu empreendimento, que será sua bússola nos meses e anos subsequentes. Mensalmente, apuram-se os desvios entre o real e planejado, tomando ações corretivas visando atingir as metas pré-estabelecidas.
Para percorrer esse trajeto, o empreendedor precisa entender o significado do valor do dinheiro no tempo e as técnicas de análise de investimentos para determinar, por exemplo, a viabilidade econômica da compra de uma nova máquina, do lançamento de um novo produto ou serviço, ou ainda da ampliação de sua fábrica.
No que tange às opções de captação de recursos (empréstimos bancários ou capital de investidor), o empreendedor passa a conhecer os custos e riscos que cada uma pode trazer ao seu negócio. Conceitos de custos (fixos, variáveis, diretos e indiretos) devem ser entendidos, bem como a relação entre custo do produto, volume e lucro para auxiliar o empreendedor no cálculo do ponto de equilíbrio do negócio e na formação de preço de seus produtos e serviços.
O empreendedor deve estar capacitado para administrar o capital de giro (estoques, contas a receber de clientes e contas a pagar a fornecedores) e a tomar decisões que aumentem a rentabilidade do negócio. Em seu processo de aprendizado, aprende a calcular o valor justo de um negócio, estando preparado para negociar a compra ou venda de um empreendimento.
Empreendedores capacitados em finanças inseridos em um ambiente de estímulo contínuo a cultura do empreendedorismo garantirão um futuro promissor às micros e pequenas empresas, geradoras da maioria dos empregos neste país.
Virou senso comum afirmar que o brasileiro tem uma grande vocação para o empreendedorismo. No entanto, exercer tal chamado com êxito é uma tarefa bastante difícil no Brasil. Nosso presidente, que prometeu criar 10 milhões de empregos ao longo dos seus quatro anos de mandato, precisará cumprir pelo menos parte dessa promessa caso queira ser reeleito. A maneira mais eficiente para realizá-la é estimulando a cultura do empreendedorismo através do fortalecimento das micro e pequenas empresas, geradoras da maioria dos empregos nesse País.
Poucos profissionais estão suficientemente preparados para administrar os seus negócios em um País que estabelece a maior taxa de juros do planeta (o que desestimula a atividade econômica e aumenta as exigências de retorno por parte dos investidores) e que dificulta o acesso a linhas de crédito.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que o estímulo ao empreendedorismo é uma valiosa alternativa para a solução do desemprego e geração de renda, a inexperiência e o despreparo do empreendedor tornam-se umas das principais carências nacionais. Segundo pesquisa recente publicada pelo Sebrae-SP, de cada 100 empresas abertas, 31 fecham no primeiro ano e 60% sobrevivem até o quinto. Perde- se R$ 15,6 bilhões e até 530 mil empregos em São Paulo anualmente devido ao fechamento prematuro de pequenas e microempresas.
O empreendedor, muitas vezes, conta com seus próprios recursos, ou os da família, para manter o seu negócio vivo. Conhecer e estar preparado para manejar as ferramentas contábeis e financeiras torna-se, dentro desse cenário hostil, um diferencial e até mesmo uma questão de sobrevivência. Mas há muitos empreendedores ainda não atentos a essa realidade. É comum ouvi-los afirmar que irão ganhar muito dinheiro com um negócio próprio no Brasil, sem estar no mínimo familiarizado com conceitos básicos de finanças. Essa noção é um ledo engano!
No entanto, quando os empreendedores começam a se aprofundar no tema, eles passam a perceber a crucial importância das finanças e da contabilidade na gestão de seus negócios. Nesse processo de aprendizado, o profissional faz a projeção da demonstração de resultados, do balanço e, principalmente, do fluxo de caixa, construindo um eficiente plano de negócios, que será a sua bússola nos meses e anos subsequentes.
Para percorrer esse trajeto de forma eficiente, o empreendedor precisa entender o significado do valor do dinheiro no tempo e conhecer as técnicas de análise de projetos para determinar, por exemplo, a viabilidade econômica da compra de um novo equipamento, do lançamento de um novo produto ou serviço ou da ampliação de sua fábrica.
Por último, no que tange às opções de financiamento existentes – empréstimos e capital de risco – é preciso que o empreendedor conheça os custos e riscos que cada um pode trazer ao seu negócio. Conceitos de custos (fixos, variáveis, diretos e indiretos) devem ser entendidos, bem como a relação entre custo, volume e lucro para auxiliar o empreendedor no cálculo do ponto de equilíbrio do negócio e na formação do preço de seu produto ou serviço.
O empreendedor deve estar capacitado para administrar o capital de giro de seu negócio e a tomar decisões que aumentem a rentabilidade do empreendimento. Diante desse quadro, resta-nos perguntar como pavimentar o caminho para aumentar e consolidar a vocação empreendedora brasileira? Dentre as possíveis sugestões é importante considerar a ênfase no empreendedorismo como gerador de empregos e riqueza; a participação dos centros de ensino no processo de formação de nossos empreendedores através da cadeira de empreendedorismo com ênfase na gestão financeira; a criação de linhas de crédito com taxas competitivas para as micro e pequenas empresas e o esforço contínuo do governo em baixar o spread e o juro bancário, uma vez que a queda nos juros amplia o crédito e viabiliza novos investimentos.
As pequenas e microempresas, respondendo por 20% do PIB e por 60% dos empregos no Brasil, contribuem de forma vital para o nosso desenvolvimento econômico. Paradoxalmente, na hora da concessão de crédito nossos empreendedores estão longe de terem tratamento prioritário, pois recebem apenas 10% dos créditos bancários. Muitos empreendedores precisam contar com seus próprios recursos ou os da família (love capital) para manter o negócio.
Diante de um cenário hostil, marcado por crédito escasso, juros estratosféricos e excessiva carga tributária, resta ao empreendedor rezar para que um anjo apareça em sua vida oferecendo capital. Não se trata de esoterismo, o investidor anjo existe e pode ser a ponte para que a idéia do empreendedor saia do papel e torne-se um grande negócio. O investidor anjo é um capitalista de risco em busca de oportunidades de negócios para o seu capital.
A terminologia pode soar um tanto esotérica mas os anjos são comuns nos Estados Unidos e tornaram-se uma das mais importantes fontes de capital responsável pelo financiamento de empresas emergentes americanas. São mais de 400 mil anjos que no ano de 2000 investiram em torno de US$ 30 bilhões na economia norte-americana. Esses investidores, em sua maioria, tornaram-se milionários em função do sucesso de seus empreendimentos, possuem educação superior e substancial experiência em finanças e gestão de negócios.
O capital do anjo é tido como capital semente (seed money) e competente, pois combina duas formas de capital críticas nos estágios iniciais de novos negócios: o capital financeiro de risco e o capital humano de investidores experientes. O anjo assume um alto risco, pois aposta na fase inicial da empresa, tornando-se, geralmente, sócio dela até que o empreendimento ganhe forças e ande com as próprias pernas. A expectativa do anjo é realizar o ganho de capital na venda de sua participação após um período de três a cinco anos, em média, quando se dará a esperada valorização da empresa. Por isso, que uma preocupação básica do anjo é com o seu plano de saída da empresa. O anjo prefere um empreendedor que além de mostrar um perfeito domínio do negócio, esteja aberto a conselhos e a participação de terceiros na empresa. O capital humano é, por vezes, tão ou mais importante que o financeiro, incluindo importantes ativos intangíveis constituídos pelo investidor anjo e que são repassados ao novo empreendimento, tais como seu conhecimento técnico e do ramo de negócio, sua experiência profissional e sua rede de relacionamentos. Um anjo adequado encontrado, certamente, acrescentará muito mais ao negócio do que propriamente o dinheiro injetado.
Uma iniciativa para uma atuação mais ativa do anjo no Brasil ocorreu com a criação do Gávea Angels, composto por um grupo de investidores individuais do Rio de Janeiro. O aporte máximo é de R$ 1 milhão, devendo o empreendimento estar em sua fase inicial e enquadrar-se em um dos ramos de negócios contemplados pelos associados. Iniciativas similares começam a aparecer em outras partes do país, como o Bahia Angels, rede de anjos em formação de apoio estratégico ao empreendedorismo local.
Para correr a multiplicação dos anjos no Brasil alguns entraves devem ser superados, a saber:
a) diferentemente de outros países desenvolvidos, aqui faltam incentivos fiscais para investimentos em capital de risco, tais como dedução do imposto de renda e isenção de ganhos de capital;
b) nossos anjos ainda operam de forma muito isolada, havendo a necessidade de se formar times;
c) alguns anjos revelam uma certa carência no uso de técnicas para avaliar investimentos em empresas nascentes, sendo recomendável a implantação de mecanismos educacionais para a capacitação adequada desses investidores. A adoção dessas medidas reforçaria a crença de que o empreendedorismo pode contribuir de forma significativa e indiscutível para o progresso econômico e bem estar da população brasileira.
Tem sido comum empresas adotarem como estratégia de crescimento, a opção de expansão por meio de franquias, visando aumentar seu faturamento e fatia de mercado.
Ao que parece, os números recentes do setor de franquia mostram-se favoráveis à esta escolha estratégica.
Não obstante a gravidade da crise atual, caracterizada pelo desemprego de 11,3 milhões de brasileiros, inflação ainda em um patamar elevado, além de uma oferta de crédito cara e escassa, o segmento de franquia cresceu 8,6% em 2015 e projetava-se um aumento de 7% para 2016.
Importante frisar, que independentemente de um cenário, à princípio, promissor para os empreendimentos de franquia, o sucesso de uma estratégia de expansão via franquia requer uma salutar conjugação de interesses entre Franqueador e Franqueado.
Esta perfeita harmonia nasce no processo seletivo do candidato Franqueado. A escolha do Franqueado deve ser permeada por intenções verdadeiras de ambas as partes, Franqueador e Franqueado.
Ou seja, o candidato à Franqueado deve ter consciência de que Franquia não é emprego. É um investimento de risco em um empreendimento para ser administrado por Gestor competente.
Pelo lado do Franqueador, este deve ter em mente o risco que incorre ao conceder uma franquia a um candidato propenso a usar o dinheiro de sua rescisão contratual para abrir o próprio negócio, em uma tentativa de driblar a crise. Em outras palavras, investir em franquia como uma forma de comprar o próprio emprego.
E aqui vai um alerta para as empresas de consultoria que prestam serviço de seleção de Franqueados e auxílio na expansão de rede de franquias. Tais empresas devem ter o cuidado de separar os candidatos interessados de entrar em uma Franquia, pressionados pelo desemprego, daqueles que planejam ingressar e que se prepararam realmente para uma transição de carreira.
A criação de empregos por Franquias apenas motivada pelos recursos monetários de desempregados, que usam o dinheiro da rescisão contratual para abrir o próprio negócio, em uma tentativa de driblar a crise de desemprego atual, deve ser analisada com muita cautela, tanto do ponto de vista ético frente ao candidato, como também em relação ao risco do Franqueador de não vir a ter futuros gestores preparados na implantação da estratégia de expansão do negócio via franquia.
Este termo já surgiu há mais de meio século nas velhas discussões de valor de empresa e quanto o entendimento correto e a importância dada ao assunto são relevantes na gestão das empresas. E ainda se fala bastante mas não necessariamente está incorporado no dia a dia das empresas. Na verdade, esta cultura de valorização do capital intelectual deveria estar incorporada no dia a dia da gestão do indivíduo para se tornar efetiva. E, muito mais do que “Capital intelectual” temos que falar em “Valor do Ser Humano”.
O que se vê, na prática, é que quando a mão de obra se torna escassa, em tempos de demanda alta e de desenvolvimento, surge, na empresa, os defensores de retenção e criam-se planos de preservação deste valor intelectual. E, quando há retração de mercado, em época de recessão, de corte de custos, inicia-se um corte de pessoal de forma até irracional: alguém define que deverá ocorrer um corte de 30% na empresa. E começa-se a demitir pessoas. Obviamente, demitem-se os profissionais que têm as maiores remunerações para atingir a meta mais rapidamente. E conserva na empresa os recém entrantes ou os das remunerações mais baixa tendo a falsa ilusão de que ter um monte de gente significa produzir mais…. Mas, onde ficou o Valor do Ser Humano ou o Valor da Empresa? Foram-se! Perderam-se nestas transformações…
Este fato me lembra a história da cigarra e da formiga. Fábula antiga que todos devem conhecer! Ou seja, os indivíduos tomam as decisões mais fáceis e mais simples sejam ela no momento da crise ou da bonança. E não se prepara com a visão de futuro. As empresas com visão de futuro que trabalham o presente de forma realista e construtiva tem mais chance de ver este futuro acontecer porque eles poderão ser os transformadores do futuro.
Onde foi a possível falha? Uma delas é que deveria ocorrer a incorporação, no dia a dia, uma gestão de competências e implementação de processos que ajudem na preservação e ampliação do Valor seja na crise ou na bonança. São ações básicas que todos devem tomar todos os dias. Seguem 8 dicas importantes: